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SNTCT - Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações

terça-feira, 5 de janeiro de 2021


Tudo passa e tudo fica
porém o nosso é passar,
passar fazendo caminhos
caminhos sobre o mar


Nunca persegui a glória
nem deixar na memória
dos homens minha canção
eu amo os mundos sutis
leves e gentis,
como bolhas de sabão

Gosto de ver-los pintar-se
de sol e graná voar
abaixo o céu azul, tremer
subitamente e quebrar-se...

Nunca persegui a glória



Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar

Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar

Caminhante não há caminho
senão há marcas no mar...

Faz algum tempo neste lugar
onde hoje os bosques se vestem de espinhos
se ouviu a voz de um poeta gritar
"Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar"...

CANTARES Antonio Machado



CESP - Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal

"Vida de escritório das 9 às 5
Horas extraordinárias
De borla até às 20 e tal
Fora o fisco
Fora o risco
De ficar fora disto!
Cinto aperta é perto a jugular
Carta aberta é conta pra pagar
A fome aperta é perto o limiar
Ferida aberta o abutre a voar!

Eureka deu merda moderna
A moeda em queda e a meta
Medem a média e dá nada
Euro e europa e euribor
E ouro e outro que é diesel
Cobre e coroa de níquel
Cobras cobram sacrifícios!

Cortam no que comes
E mantêm o vício
O ministro fez a conta
És desperdício
E agora tens a escolha
Ntre o precipício
E a espada!

Eu insistia que queria esta vida
Para mim um dia
E se eu sabia que ia dar
Em via sem saída
Será que ainda resistiria
Ficava ou fugia
Gritava com valentia
Ou soria para a fotografia?
A cidade é ácida
A vida é ávida e rápida
A idade é ápice
E há de passar
De dádiva a dívida!


Fera mecânica
Nesta era do pânico
Nesta mira automática
A nossa ira é vulcânica
Selva sintética
Nesta meca satânica
Nesta merda higiénica
A matemática é sádica!

Cinto aperta é perto a jugular
Carta aberta é conta pra pagar
A fome aperta é perto o limiar
Ferida aberta o abutre a voar!
Espeta roda a faca e corta o pulso
Ou cerra o punho, faz discurso!
Espeta roda a faca e corta o pulso
Ou cerra o punho, faz discurso!

Como é que eu saio daqui?
Como é que eu saio daqui?
Como é que eu saio daqui?
Todos temos revolta
Nós andamos à solta
Todos vemos a porta!
O que é que falta?

O que é que falta?
O que é que falta?
Todos temos revolta
Nós andamos à solta
Todos vemos a porta!
O que é que falta?
O que é que falta?"

JUGULAR Capicua



SITE-Norte

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

"Era ele que erguia casas

Onde antes só havia chão.

Como um pássaro sem asas

Ele subia com as asas

Que lhe brotavam da mão.

Mas tudo desconhecia

De sua grande missão:

Não sabia por exemplo

Que a casa de um homem é um templo

Um templo sem religião

Como tampouco sabia

Que a casa que ele fazia

Sendo a sua liberdade

Era a sua escravidão.

De fato como podia

Um operário em construção

Compreender porque um tijolo

Valia mais do que um pão?

Tijolos ele empilhava

Com pá, cimento e esquadria

Quanto ao pão, ele o comia

Mas fosse comer tijolo!

E assim o operário ia

Com suor e com cimento

Erguendo uma casa aqui

Adiante um apartamento

Além uma igreja, à frente

Um quartel e uma prisão:

Prisão de que sofreria

Não fosse eventualmente

Um operário em construção.

Mas ele desconhecia

Esse fato extraordinário:

Que o operário faz a coisa

E a coisa faz o operário.

De forma que, certo dia

À mesa, ao cortar o pão

O operário foi tomado

De uma súbita emoção

Ao constatar assombrado

Que tudo naquela mesa

- Garrafa, prato, facão

Era ele quem fazia

Ele, um humilde operário

Um operário em construção.

Olhou em torno: a gamela

Banco, enxerga, caldeirão

Vidro, parede, janela

Casa, cidade, nação!

Tudo, tudo o que existia

Era ele quem os fazia

Ele, um humilde operário

Um operário que sabia

Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento

Não sabereis nunca o quanto

Aquele humilde operário

Soube naquele momento

Naquela casa vazia

Que ele mesmo levantara

Um mundo novo nascia

De que sequer suspeitava.

O operário emocionado

Olhou sua própria mão

Sua rude mão de operário

De operário em construção

E olhando bem para ela

Teve um segundo a impressão

De que não havia no mundo

Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro dessa compreensão

Desse instante solitário

Que, tal sua construção

Cresceu também o operário

Cresceu em alto e profundo

Em largo e no coração

E como tudo que cresce

Ele não cresceu em vão

Pois além do que sabia

- Exercer a profissão -

O operário adquiriu

Uma nova dimensão:

A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu

Que a todos admirava:

O que o operário dizia

Outro operário escutava.

E foi assim que o operário

Do edifício em construção

Que sempre dizia "sim"

Começou a dizer "não"

E aprendeu a notar coisas

A que não dava atenção:

Notou que sua marmita

Era o prato do patrão

Que sua cerveja preta

Era o uísque do patrão

Que seu macacão de zuarte

Era o terno do patrão

Que o casebre onde morava

Era a mansão do patrão

Que seus dois pés andarilhos

Eram as rodas do patrão

Que a dureza do seu dia

Era a noite do patrão

Que sua imensa fadiga

Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!

E o operário fez-se forte

Na sua resolução


Como era de se esperar

As bocas da delação

Começaram a dizer coisas

Aos ouvidos do patrão

Mas o patrão não queria

Nenhuma preocupação.

- "Convençam-no" do contrário

Disse ele sobre o operário

E ao dizer isto sorria.

Dia seguinte o operário

Ao sair da construção

Viu-se súbito cercado

Dos homens da delação

E sofreu por destinado

Sua primeira agressão

Teve seu rosto cuspido

Teve seu braço quebrado

Mas quando foi perguntado

O operário disse: Não!


Em vão sofrera o operário

Sua primeira agressão

Muitas outras seguiram

Muitas outras seguirão

Porém, por imprescindível

Ao edifício em construção

Seu trabalho prosseguia

E todo o seu sofrimento

Misturava-se ao cimento

Da construção que crescia.


Sentindo que a violência

Não dobraria o operário

Um dia tentou o patrão

Dobrá-lo de modo contrário

De sorte que o foi levando

Ao alto da construção

E num momento de tempo

Mostrou-lhe toda a região

E apontando-a ao operário

Fez-lhe esta declaração:

- Dar-te-ei todo esse poder

E a sua satisfação

Porque a mim me foi entregue

E dou-o a quem quiser.

Dou-te tempo de lazer

Dou-te tempo de mulher

Portanto, tudo o que ver

Será teu se me adorares

E, ainda mais, se abandonares

O que te faz dizer não.


Disse e fitou o operário

Que olhava e reflectia

Mas o que via o operário

O patrão nunca veria

O operário via casas

E dentro das estruturas

Via coisas, objectos

Produtos, manufacturas.

Via tudo o que fazia

O lucro do seu patrão

E em cada coisa que via

Misteriosamente havia

A marca de sua mão.

E o operário disse: Não!


- Loucura! - gritou o patrão

Não vês o que te dou eu?

- Mentira! - disse o operário

Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se

Dentro do seu coração

Um silêncio de martírios

Um silêncio de prisão.

Um silêncio povoado

De pedidos de perdão

Um silêncio apavorado

Com o medo em solidão

Um silêncio de torturas

E gritos de maldição

Um silêncio de fracturas

A se arrastarem no chão

E o operário ouviu a voz

De todos os seus irmãos

Os seus irmãos que morreram

Por outros que viverão

Uma esperança sincera

Cresceu no seu coração

E dentro da tarde mansa

Agigantou-se a razão

De um homem pobre e esquecido

Razão porém que fizera

Em operário construído

O operário em construção"


OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO Vinícius de Morais

 

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